03 junho 2007

presidenciais francesas


A vitória do neoliberalismo assumido

O candidato da direita, Nicolas Sarkozy, venceu a socialista Ségolène Royal na segunda volta das eleições francesas, no passado mês de Maio. Um sinal da consagração do liberalismo selvagem como doutrina oficial e incontornável, na França das crises sociais.

À semelhança do que já tinha acontecido na primeira volta, a afluência às urnas registou uma das mais altas taxas de participação de sempre, tendo votado 84 por cento dos eleitores recenseados. Sarkozy era há muito apontado como sucessor natural de Jacques Chirac. Apesar da relação tensa entre presidente eleito e presidente cessante, as lutas internas no Partido Socialista, em torno do apoio à candidatura de Royal acabaram por ser decisivas na mobilização dos eleitores para a vitória da direita. Na primeira volta, o significativo resultado alcançado pelo candidato dito centrista, François Bayrou, mostrou que o eleitorado procurava alternativas à tradicional divisão esquerda/direita. Mas a segunda volta mostrou que grande parte dos votos de Bayrou viria a deslizar para a direita. Após a declaração de vitória, e ao mesmo tempo que despoletavam violentos protestos, o presidente recém-eleito, indiferente às críticas, partiu para umas mini-férias num iate de luxo, em Malta.

Campanha dominada pela agenda da extrema-direita

O candidato da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, apesar da queda acentuada que havia registado em relação às anteriores eleições (nas quais tinha disputado a segunda volta com Chirac) viu serem trazidos para a discussão alguns dos temas tradicionais da extrema-direita. Imigração e segurança foram o principal tema das campanhas dos principais candidatos. Ao passo que Ségolène falava de uma suposta “França mestiça”, Sarkozy não hesitou em apontar a imigração como a principal fonte de conflito social, numa descarada chamada ao eleitorado da extrema-direita. E, por outro lado, ao invés de disfarçar o seu temível programa social, apresentou-o aos franceses como a única solução possível para os problemas do país. Mas esta ascensão da direita também encontra culpados nos outros quadrantes políticos: as disputas internas que se vivem no seio dos socialistas franceses, bem como a descaracterização progressiva de que tem sido vítima o Partido Comunista Francês, enfraqueceram a esquerda, deixando que os valores autoritários se fossem sobrepondo aos sociais. Aos trabalhadores franceses, a quem é negada uma efectiva representação política, resta partir para a contestação social.

Fundamentalismo islâmico: uma pedra no sapato de Sarkozy

Sarkozy nega à Turquia o direito a entrar na União Europeia. O Presidente eleito afirma que a Turquia está situada na Ásia Menor, não na Europa. Sugere que o início das negociações com este país, tendo em vista a sua adesão, teria sido um erro político da esquerda europeia, que deve ser corrigido. Sarkozy defende que a entrada da Turquia seria um impedimento à construção de uma politica europeia comum. Apesar de não fechar a porta a parcerias económicas, descarta à partida a possibilidade de união política. Estas posições causaram desagrado em todo o mundo muçulmano, além de contribuírem para dividir ainda mais a sociedade turca, que enfrenta uma grave crise política. Segundo alguns especialistas, estas atitudes vão fortalecer os grupos islâmicos radicais. Grupos extremistas com ligações à Al-Qaeda prometeram já "uma campanha sangrenta" em território francês, como retaliação pela eleição do novo presidente, a quem apelidam de "sionista".